O homem branco é o senhor, dono, proprietário dos cinco
outros homens negros e mulatos. Os outros se encontram atrás. O primeiro à
esquerda do senhor é mulato, está bem vestido. Ao contrário dos outros, deixou
o cabelo meio liso crescer, penteou-o, fez uma risca no lado esquerdo, como o
seu senhor. Mas não pode usar sapatos, privilégio e marca distintiva dos livres
e libertos.
Tirar fotografia era uma operação demorada. Ninguém podia se
mexer durante quase dois minutos. Outras tentativa já podiam ter falhado. O
fotógrafo Militão, que fez essa foto em São Paulo, deve ter reclamado. Por isso
ou por outras razões mais secretas, o senhor está zangado, de cara amarrada. O
escravo situado à sua direita, assustado, encolheu-se. Na extrema esquerda, o
homem com a varinha na mão - pastor de cabras ou de vaca leiteira na cidade -
tem um olhar altivo, talvez porque traga nas mãos o objeto de seu ofício, que o
distingue dos outros cativos, paus para toda obra. Na extrema direita, o homem
de branco se mexeu: estragou a foto da ordem escravista programada pelo seu
senhor. Vai apanhar. No seu rosto fora de foco vislumbra-se o medo. Vai
apanhar.
Fonte: ALENCASTRO, Luis Felipe de. História da vida privada
no Brasil. Império: a corte e a modernidade nacional. p.18-19
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